Ele chega a casa depois do trabalho, depois de oito horas
sempre a moinar frente ao computador. Processo atrás de processo. Word sobre
word até os olhos começarem a ficar vesgos. Finalmente pode esquecer um pouco o
tédio do labor repousando no seu templo habitacional. A caminho da sala larga o
casaco pelo chão e esbarra com a mala do portátil para um canto qualquer.
Talvez tenha esbarrado com um pouco de força a mais. Que se foda!
Senta-se, e aprecia uma fresca cerveja relaxante. Acolhe o
silêncio da casa vazia, já merecia esta calma paz.
Nem sempre é assim. Nem sempre chega e fica só. Na maioria
dos dias ela já está em casa quando ele abre a porta, preparando o jantar, ou
repousando no sofá. Mas, nestes dias foi em trabalho para outro lado qualquer.
Uma seca. Uma grande seca. Bem que lhe apetecia enroscar-se a
ela e dormitar no sofá, embalado no seu abraço.
Pensar nisso enche-o com uma certa nostalgia, um certo tesão,
por se lembrar dos seus seios encostados ao seu peito. Decide-lhe ligar e não demora
muito a fazer a chamada.
Toca, insistentemente, ininterruptamente, e do outro lado ela
atende.
- Sim? (Ele percebe
que a respiração e a voz dela estão ligeiramente ofegantes.)
- Olá, estava a pensar
em ti. Está tudo bem por aí?
- Sim. Normal… (Diz-lhe
de forma seca, arquejante.)
- Que fazes? Pareces
cansada.
- Nada…
- Nada?... Só isso?...
(Diz ele só por dizer, esperando dela um pouco mais de emoção na voz. Mas ela
responde sufocadamente, mecanicamente, inspirando e expirando apressadamente,
sem prestar atenção ao que diz.)
- Já sabes… Que… Não
sou muito boa… A falar ao telefone… Estou… Estive a fazer exercícios…
- Exercícios?... Durante
o trabalho? Estives-te, ou ainda estás? (Desconfia ele.)
- Bem… (Inspira.) Estou…
(Expira.)
- Estás a fazer sexo
com ele não é? (Diz-lhe chocado, preocupado, assustado.)
- Sim… (Suspira
finalmente ela a vontade contida.)
… (Ele responde, longos
segundos depois.)
- Não sei que te
hei-de dizer…
- Não digas nada… (Diz-lhe
com um leve gemido a fugir pela garganta.)
- Puta…
- Excito-te? Cabrão...
(Expira.)
- … Sim.
- Vais ficar a me
ouvir, n’é?...
- Sim… (Suspira ele,
masturbando-se do outro lado.)